Nelson Valente
A educação como principal fator de mudança
Publicado: 8 de abril de 2014 às 12:02 - Atualizado às 23:04
Se investirmos apenas 0,5% do Produto Interno Bruto em Ciência aí está o
sintoma claro de que nos distanciamos de nações mais desenvolvidas,
como é o caso da Coreia do Sul, que hoje coloca 2% do seu PIB em pesquisa científica e tecnológica. Com um pormenor notável: 70% desses recursos são oriundos da iniciativa privada, que acredita nesse investimento, o que infelizmente não ocorre entre nós.
A Suécia é o país que mais investe em educação. Só em 2013, gastou 7,6% do seu Produto Interno Bruto nessa área, superando os Estados Unidos,
a França, o Japão e a Itália, que aplicaram índices inferiores do seu
PIB no mesmo setor. Com uma população de 8,4 milhões de habitantes, o
país passou por uma intensa reforma educacional, a partir dos anos 50.
Hoje, dedica nove anos à escolarização obrigatória, que abrange alunos dos sete aos dezesseis anos de idade;
dispõe de classes integradas para o ensino médio, objetivando acomodar
indivíduos a partir dos 16 anos; possui um sistema municipal de educação de adultos
oferecendo a mesma qualidade-padrão dada aos mais jovens; e conta com
um nível superior aberto a qualquer um, com qualificações bastante
diversificadas.
Todas as crianças entram no pré-escolar pelo menos um ano antes de
iniciar a escolarização obrigatória. As instituições que realizam esse
trabalho não pertencem ao sistema regular de ensino, mas a programas
governamentais de auxílio à criança.
A parcela do orçamento
voltada para o ensino é distribuída de tal forma que aumenta os
incentivos, estimulando os estudantes. A pré-escola, a educação
obrigatória e o ensino médio são controlados pelas autoridades municipais, mas os gastos com a manutenção são divididos com o Estado.
As escolas são gratuitas e seus alunos recebem ainda o material escolar, a refeição e o transporte. Existem poucas escolas particulares.
Os pais dos estudantes recebem o salário-família, que é idêntico para
todos, até que os dependentes completem 16 anos. A partir daí, os jovens
que desejam continuar os estudos recebem bolsas. Chegando ao nível superior, essas bolsas passam a ser empréstimos reembolsáveis.
As administrações municipais proporcionam a um número cada vez
maior de crianças atendimento durante todo o dia e atividade fora do
horário escolar, por preços módicos. A educação em nível universitário é
totalmente controlada pelo governo, existindo mais de 30 instituições
que proporcionam ensino gratuito.
Na Suécia, as pessoas com
retardamento mental cursam uma escola especial, que não é apenas um
direito, mas faz parte da escolarização obrigatória, na faixa dos 7 aos
21 anos. A integração entre o ensino regular e o especial cria condições
para uma cooperação mútua, oferecendo aos deficientes mentais as mesmas
facilidades de que dispõem os outros estudantes.
Observando o sistema educacional sueco, nota-se uma forte preocupação em
manter um currículo homogêneo, igual para todas as escolas do país. Ele
contém exigências expressas quanto às tarefas escolares, de maneira que
elas se adaptem às necessidades intelectuais e sociais dos alunos.
O objetivo principal do governo
é beneficiar o desenvolvimento da personalidade da criança, aumentar
suas possibilidades de uma boa colocação no mercado de trabalho e
garantir uma intensa participação na vida da comunidade. Para um país
das suas dimensões, o sistema funciona de modo bastante adequado, o que
resulta na posição invejável da Suécia no conceito internacional.
No Japão, o ensino é obrigatório durante os primeiros nove anos de
escolarização ( seis no primário e três no secundário inferior) . A partir
daí, tudo é opcional. Em consequência, praticamente todos os japoneses
dos seis aos 15 anos de idade encontram-se nas escolas, num fenômeno
elogiável de universalização do ensino.
Alcançando esse ideal, os educadores agora se voltam para a discussão em
torno da qualidade do ensino, procurando-se valorizar a criatividade,
de que eles andam bastante divorciados.Condena-se hoje o excesso de
memorização nas escolas, quando o desejável é a compreensão maior e
melhor das lições transmitidas por seus mestres. Outro aspecto a ser
ressaltado é o excesso de competitividade, responsável pela enorme
frequência de suicídios entre os jovens. Não serve estudar em qualquer
escola, mas nas que têm renome, sobretudo universidades.
As melhores oportunidades são oferecidas aos que têm históricos
escolares exemplares, o que é compulsado pelos caçadores de talentos das
empresas japonesas. Para oferecer essas oportunidades aos seus
estudantes, o Japão investe 12% do orçamento em educação.
Os Estados Unidos investem nada menos de 13,6 %. Numa comparação sem
maior análise, do que faz o Brasil. O problema é que temos uma dívida
social imensa, que precisa ser resgatada com investimentos maciços na
educação. Enquanto isso não se fizer, continuaremos a conviver com
números e carências verdadeiramente absurdos.
A quase totalidade dos nossos fracos investimentos na área são devidos a recursos
federais, colocados à disposição das universidades. Não se deve
desconsiderar o valor dos recursos hoje aplicados no Brasil aos setores
de desenvolvimento científico e tecnológico.
São 2,4 bilhões de dólares, resultado das muitas campanhas realizadas e
da aquisição de uma consciência generalizada a respeito da sua
importância. Mas é também claro que estamos muito longe dos recursos
ideais.
Veja o caso dos EUA: as universidades americanas disporão este ano um
orçamento de 158 bilhões de dólares, mais da metade para projetos de
pesquisa básica. Por aí se entende porque cientistas americanos venceram
207 dos 528 Prêmios Nobel distribuídos desde 1901.
Quando se coloca a questão da inserção do Brasil no clube do Primeiro
Mundo, gostaria de deixar claro o meu ponto de vista: entrar no Primeiro
Mundo não significa vencer a corrida tecnológica, mas acompanhá-la. Um
país pertence ao Primeiro Mundo quando contribui para o desenvolvimento
da humanidade como um todo.
O Brasil poderia estar dedicando maior atenção ao desenvolvimento de
vacinas contra a meningite do tipo B e o dengue. No primeiro caso, temos
importado vacinas de Cuba, gastando milhões de dólares, quando isso
poderia estar sendo feito em nossos próprios laboratórios, com economia e
eficiência.
O mesmo pode ser dito em relação à genética. O nosso país tinha
resultados apreciáveis, em nível mundial, nas décadas de 50 e 60, mas
por falta de apoio a nossa presença foi definhando, tornando-se hoje
secundária.
A origem da falha encontra-se no sistema escolar (“a escola está
preocupada em ensinar – e não fazer o aluno aprender”). A escola quer
formar os cidadãos médios, mas é preciso valorizar os bons alunos,
aqueles que irão compor as elites científica e intelectual, de onde são
extraídos os elementos capazes de sustentar a liderança em setores
determinados do conhecimento ou do pensamento. Há exemplos
internacionais do que deve ser feito, como é o caso da Bronx School of
Science (NY), que trabalha com alunos superdotados para o ensino de
Ciências. Eles são estimulados, por mestres competentes, em laboratórios
devidamente apetrechados, para que se ampliem as suas possibilidades de
acesso a outros patamares da ciência moderna.
O povo brasileiro considera a educação como principal fator
de mudança na sociedade. Por falta de marketing e a existência de
circunstâncias sobre as quais não se tem domínio, como é o caso da
segurança e da saúde, a educação passou a uma posição secundária, o que
dificulta considerá-la prioridade. Para o leigo, ela deixou de ter a
mesma importância de dez ou 15 anos atrás.
Entre as reformas preconizadas para a educação brasileira, seria
originalíssimo pensar numa estratégia de marketing que valorizasse a
vontade política do país, no sentido de dar à educação a precedência que
lhe é devida. Só assim, viveríamos novos tempos de esperança, no setor
que é fundamental para o nosso crescimento rápido e auto-sustentado.
As nações desenvolvidas agem dessa forma. Não temos outra saída senão seguir os seus passos.
Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor
Fonte: Diário do Poder
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