A
carta da jornalista Vanessa Andrade se despedindo do pai, o
cinegrafista Santiago Andrade, comoveu o País. Emocionou, rasgou o fundo
da nossa alma, dilacerou corações e nos fez chorar, um choro em
silêncio, porque, diante da mais dolorosa experiência com a dor, a da
separação e morte, ela falou do amor.
Diz
o poeta que o amor é a coisa mais triste quando se desfaz. É triste por
causa do retrato. Drummond, ao lembrar-se da sua Itabira, disse que era
um retrato de dor na parede.
Não há coisa pior no mundo do que a perda. Não gostamos de perder nada, nem mesmo uma simples partida de dominó.
O
bom da vida é ganhar, nunca perder. Porque a perda faz lembrar uma
felicidade que se teve e que não se tem mais. O retrato é assim, por si
só, uma sepultura.
Vanessa está agarrada agora apenas ao retrato do pai, doendo, uma dor insuportável. Amor de pai é o maior de todos os amores.
Por
isso dói tanto. E fica a saudade. Imagino a dor da saudade que sofre
Vanessa. Sabe ela que a saudade é a nossa alma dizendo para onde ela
quer voltar.
Vanessa
sente saudade, saudade de beijar o seu pai, saudade dos ensinamentos do
seu pai, saudade da convivência diária com o pai, roubada pela
violência urbana.
Já
perdi a minha mãe e sei o que Vanessa sofre. Toda separação é triste,
porque ela guarda memória de tempos felizes, que não voltam mais. A
saudade, já ouvi de um poeta, é o bolso onde a alma guarda aquilo que
perdeu.
Quem semeia amor, sempre deixa saudade. Quando a saudade é demais, não cabe no peito: escorre pelos olhos. Saudade é uma coisa que não tem medida, é um vazio que só se pode preencher com a lembrança.
Machado de Assis, falando de saudade, deixou muita coisa linda, entre as quais este verso:
"Guarda
estes versos que escrevi chorando como um alívio a minha saudade, como
um dever do meu amor; e quando houver em ti um eco de saudade, beija
estes versos que escrevi chorando".
Amor
é estado de graça, é a alegria do encontro e a dor da separação. Manoel
Bandeira disse que gostaria que seu último poema fosse ardente como um
soluço sem lágrimas, que tivesse a beleza das flores sem perfume e que
tivesse a pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos.
Bandeira
falou de amor à vida inteira, Drummond também, Cecília Meirelles,
enfim, os monstros sagrados. Na sua carta de despedida, prestei bem
atenção, Vanessa agradeceu a Deus pelo pai que teve, porque, segundo
ela, teve a chance de amar e ser amada.
Vanessa, no infinito e eterno amor que teve pelo seu pai, sentirá sempre seu braço forte a lhe amparar, dando-lhe forças para viver, com uma dor infinda no peito, dizendo assim:
“Pai,
quando te chamo sei que me ouves onde estais, mas não consigo ouvir a
tua voz. Busco-te, não te encontro. Só essa dor infinda no peito, essa
saudade que dói e machuca”.
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Escrito por Magno Martins, às 06h56 |
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
A dor insuportável de Vanessa
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