"Pois tudo deriva da mesma motivação: a cor da pele. Enquanto a cor da pele influenciar na violência e na inferiorização, nunca conseguiremos igualar as situações sociais de negros/pardos e brancos(...)
Por Nathália Lausch
"Pouco tempo após o caso do rapaz negro que foi amarrado nu a um poste
por “justiceiros” (todos fichados na polícia com acusações graves, como
estupro), o racismo novamente se faz presente na vida de pessoas negras.
Desta vez, com violência verbal e humilhação pública.
Claudinei (foto acima), 33 anos, cobradora de ônibus, relata que uma passageira agiu de
forma hostil e racista com ela, chamando-a de “preta safada” e “negra
ordinária”. A polícia militar foi acionada, mas nunca apareceu. A PM,
sim, essa mesma que de cada 3 pessoas que mata, 2 são negras ou pardas*.
Não me parece coincidência o fato de terem ignorado um caso de racismo
explícito, não é mesmo?
Infelizmente, precisamos encarar a realidade: Claudinei é só mais uma
pessoa negra a ser julgada e oprimida por sua cor. Num país onde 51% da
população é negra, o preconceito racial deveria ser inaceitável. Mas é
cotidiano. É comum. É naturalizado por todos nós. E preconceito não se
baseia somente em violência física ou em violência verbal explícita – é
algo muito mais profundo do que isso. Preconceito racial existe quando
boa parte dos empregos secundários são ocupados por negros; preconceito
racial existe quando a Globeleza é negra e a apresentadora do programa
matinal é branca; preconceito racial existe quando desviamos de um negro
na rua pelo simples fato de ser negro; preconceito racial existe quando
pessoas brancas dizem que negros não precisam de cotas... e estas são
somente algumas formas pelas quais o racismo se propaga e se molda à
nossa sociedade.
Quando uma pessoa negra/parda é verbalmente humilhada e rechaçada, isso
ajuda na manutenção do racismo intrínseco da sociedade. Enquanto
mulheres como Claudinei forem tratadas de forma inferior por serem
negras/padras, existirão meninos negros/pardos sendo espancados e
amarrados em postes. Por quê? Pois tudo deriva da mesma motivação: a cor
da pele. Enquanto a cor da pele influenciar na violência e na
inferiorização, nunca conseguiremos igualar as situações sociais de
negros/pardos e brancos.
Enquanto você, pessoa branca, continuar rindo de piadas sobre o “preto
macaco”, enquanto você não rever seus privilégios por viver em uma
sociedade que te coloca como superior pela cor da sua pele, enquanto
você não tiver empatia pela situação de negros pobres, enquanto você não
ouvir o que pessoas negras têm a dizer sobre a opressão que sofrem,
você continuará ajudando na manutenção do racismo e será conivente com
agressões físicas e verbais a pessoas negras, será conivente com os
assassinatos de meninos negros causados pela PM, será conivente com toda
essa superestrutura que silencia e inviabiliza pessoas negras/pardas.
Então, pessoas brancas e privilegiadas, coloquem a mão na consciência.
Vamos parar de banalizar o racismo difundido diariamente; vamos tratá-lo
como o que ele realmente é: um sistema que mata, oprime e subjuga
pessoas negras. Um sistema que faz com que mulheres como Claudinei sejam
ignoradas e subalternadas. Um sistema que dá a nós, pessoas brancas, o
aval para discriminar negros e amarrá-los em postes sem que analisemos o
peso social que esse tipo de ação tem.
Está na hora de todos nós descermos do nosso pedestal social e, de fato,
ouvirmos as pessoas negras. Vamos ouvir todas as Claudineis, vamos
ouvir todos os meninos espancados e amarrados em postes, vamos ouvir
todos que são diariamente humilhados pela cor da pele. Vamos ouvi-los.
Não sufoquemos suas vozes com nossos privilégios."
Fonte: Folha Social
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